Jordan Cooper sobre a União com Cristo (theosis)

Kali
3 min readJun 11, 2023

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A frase “união com Cristo” é extensa em sua aplicação e, como tal, vários tipos de união devem ser distinguidos uns dos outros. Neste trabalho, é proposto que existem três tipos distintos de união de que fala a Escritura e a tradição luterana. A primeira é a união objetiva, na qual Cristo se une a toda a raça humana como uma espécie de pessoa coletiva. Em segundo lugar, há a unio fidei formalis (união formal da fé), que está relacionada com a justificação do crente. A terceira é a unio mystica (união mística), que é a maneira mais comum pela qual a união com Cristo é mencionada em toda a tradição luterana. Os dois primeiros tipos de união são explicados no texto abaixo e não serão expostos aqui. No entanto, a união mística, como o conceito mais fundacional de união com Cristo no luteranismo, é aqui preliminarmente definida. A união mística é, em sua forma mais básica, o ensinamento de que existe uma união de pessoas entre Deus e o homem, na qual Deus habita no cristão. Franklin Weidner define a união mística nas seguintes palavras:

“A união mística, como resultado da graça interior, é a conjunção espiritual do Deus trino com o homem justificado no qual Deus habita como um templo consagrado a Si mesmo por uma presença pessoal especial, não a presença de dons separados, mas de substância trazendo os dons e operando por uma influência graciosa nele”.

Essa união entre Deus e o homem é ontológica no sentido de que duas substâncias se unem e se interpenetram. Há uma espécie de “pericorese” entre Deus e o homem. Essa união pericorética não ocorre da mesma maneira que a união das duas naturezas em Cristo. A união não é pessoal no sentido de que o crente poderia dizer de si mesmo: “Eu sou Deus”, embora a união das naturezas na pessoa de Cristo seja exatamente tão próxima. Não há confusão de naturezas através desta união entre Deus e o homem, de modo que o homem se torne Deus em essência, ou que a essência de Deus seja impactada pelo homem. Esta é uma união de pessoas e substâncias sem confusão ou absorção. Em meu livro Christification: A Lutheran Approach to Theosis, argumento que a doutrina luterana tradicional da união mística constitui essencialmente uma forma luterana de theosis consistente com os primeiros escritores patrísticos. Afirmo que esta não é uma imposição da teologia ortodoxa oriental, que tem sua própria tradição única de theosis, mas é consistente com o luteranismo tradicional. O baluarte da ortodoxia luterana, Johann Gerhard, escreve, por exemplo: “Este diviníssimo banquete (a Santa Ceia) nos tornará homens divinos, até que finalmente nos tornemos participantes da bem-aventurança futura, de tudo que é de Deus e como Ele somente, e participantes completos da natureza divina.” Isso não quer dizer que não haja distinção entre a visão de Gerhard sobre o assunto e a de alguém como Gregory Palamas; existem várias diferenças entre as visões luterana e oriental deste assunto, já que os escritores luteranos não expandem as categorias de essência e energias em relação à deificação de alguém. Além disso, as duas tradições divergem em sua compreensão da experiência de theosis, e a visão oriental é geralmente de natureza mais neoplatônica. Embora existam muitas diferenças importantes entre essas duas tradições, elas surgem de algumas das mesmas convicções teológicas e antepassados patrísticos.

Fonte: Livro Union with Christ — Salvation as Participation, Jordan B. Cooper

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Written by Kali

Amante da teologia luterana e esporadicamente dedicada a traduções.

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