É bom que oremos ao Senhor. Todos sabemos disso. Mas por que é tão difícil orar? Preciso mesmo passar horas orando a Deus sem parar pra me tornar mais próxima dele?
Bom, é de muita utilidade orar por horas sem parar, é claro. Mas Deus sabe que estamos no mundo, que vivemos sob uma gama infindável de responsabilidades e deveres e que mesmo quando temos tempo pra parar tudo, muitas vezes não conseguimos nos dedicar totalmente à oração. No protestantismo parece que não se fala tanto assim sobre a vida como uma oração, mas quero compartilhar algumas coisas que tenho aprendido com a vida monástica.
A principal coisa que aprendi recentemente é que nosso corpo precisa orar. Tish Warren, em Liturgia do Ordinário, chama isso de Pilates espiritual. O sentar e levantar no culto, erguer das mãos, se ajoelhar, tudo isso, todos esse movimentos que fazemos durante nossa adoração são mui benéficos para nossa alma. Precisamos pôr nosso corpo em ritmo de oração juntamente com nossos lábios. Os antigos judeus costumavam balançar o corpo pra frente e pra trás durante a oração, e dizem que é resultado da devoção e da concentração, quando a alma atinge um estado mais elevado.
Salmos 35:10 diz “Todos os meus ossos dirão: SENHOR, quem contigo se assemelha? Pois livras o aflito daquele que é demais forte para ele, o mísero e o necessitado, dos seus extorsionários.". Algumas explicações judaicas sugerem que é importante que o corpo inteiro participe da oração, e não apenas a boca e a mente. Daí surge o costume de balançar o corpo. Existe ainda uma expressão entre os judeus que diz: "A alma do homem é a vela de Deus". Assim como a chama de uma vela se move e treme, tentando se desprender do pavio para subir, nossa alma também busca constantemente se libertar do mundo material e se unir à sua origem divina. Pode soar meio gnóstico, mas mesmo no cristianismo temos a doutrina da união com Cristo. Não é preciso se desprender do corpo necessariamente, isso é óbvio, mas nossa alma deve se elevar o máximo possível para se unir à Deus. Um estudioso judeu chamado Israel Ben Eliezer, lá do século XVII, fala sobre a surpresa de alguns neófitos ao presenciarem um judeu a orar se balançando assim. Ele diz: Assim como quando uma pessoa está se afogando, ninguém deveria zombar dela se ela estivesse se debatendo para se salvar, assim também, não deveria zombar quando observa uma pessoa fazendo movimentos enquanto reza, pois ele está tentando se concentrar e se afastar de pensamentos alheios.
Essa prática fez parte de toda a cultura do período em que nosso Senhor esteve na Terra. Acredito que muito provavelmente não só Jesus como também todos os judeus nazarenos tinham esse costume. Além disso, na tradição ortodoxa oriental, há uma ênfase na oração constante, que se estende à várias atividades do dia a dia. Os ortodoxos ensinam que a vida espiritual deve ser integrada em todas as esferas da nossa vida, incluindo as tarefas mais ordinárias. Uma das práticas mais conhecidas é a oração de Jesus: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de mim, pecador". Essa oração pode ser recitada continuamente, baixinho, enquanto se executam atividades cotidianas, como uma forma de manter o nosso espírito em comunhão com Deus.
Os ortodoxos enfatizam que o trabalho e as tarefas ordinárias não são um obstáculo à oração. Pelo contrário, essas atividades podem ser transformadas em uma forma de serviço a Deus, se feitas com o coração voltado para Ele. Os padres do deserto, por exemplo, ensinavam a importância de "orar sem cessar", como mencionado em 1 Tessalonicenses 5:17, e encorajavam os fiéis a manterem a mente e o coração focados em Deus, mesmo enquanto realizavam as tarefas manuais. Não à toa as atividades mais comuns entre os monges são a confecção de cordões de oração, cestas, entalhar crucifixos, fazer pão, etc.
Aliás, existem coisas que você pode integrar na sua rotina, se é que já não as faz corriqueiramente, que servem de ferramenta de oração se você fizer da maneira certa, como por exemplo gastar tempo com culinária, preparar o café da manhã cedinho, com calma e no silêncio, meditando na palavra, recitando os salmos e falando com Deus. É algo que você provavelmente você já faz, mas talvez a rotina tão caótica te tenha impedido de pensar sobre como fazer isso com o coração no lugar certo. Além disso, o artesanato também é ótimo pra pôr o corpo em ritmo de oração. Tanto os feitos pelos monges, que você pode aderir para si, como outros como bordar, pintar, desenhar, costurar, fazer pulseirinhas, ou literalmente qualquer outro tipo de artesanato que você conheça.
Por fim, o Trabalho físico mais geral desde lavar a louça até limpar o terreno, o trabalho de jardinagem (que, por sinal, nos ensina muito sobre a vida cristã e o trabalho de jardineiro que nosso Senhor faz). Tem tanta coisa na vida diária, trabalho é o que não falta, na verdade. Além disso, usar o serviço doméstico como forma de adoração à Deus torna ele menos pesaroso. A gente até faz com mais ânimo pois sabemos que não estamos fazendo por fazer, sabemos que com ele recebemos benefícios espirituais. Parece até sacramento, né!
Sei que ninguém vai mudar pra uma montanha na grécia e se isolar de tudo pra poder passar o dia rezando a oração de Jesus. Mas é bom que comecemos aos poucos. Comece tentando se afastar do celular e das telas. Tente ouvir menos música pra preencher o silêncio e tente preenchê-lo com recitações de salmos e orações. Conforme o dia for passando, você vai perceber que passou muito tempo com o Senhor.
Nosso coração sempre está com Ele, basta que lembremos disso durante nossa vida debaixo do Sol. A nossa vida constante que deve ser de oração. Nosso corpo deve orar conosco, nosso labor deve ser uma oração, e nossos lábios precisam simplesmente proclamar todas essas coisas.